quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Rinotraqueíte:Patogênese,Tratamento e Profilaxia.

Um dos problemas mais comuns na clínica de felinos,a Rinotraqueíte, têm um diagnóstico relativamente fácil,mas com tratamento muitas vezes frustrante ,tanto para o clínico como para o proprietário.
O agente é um DNA-vírus,um Herpesvírus de apenas um sorotipo,com vários graus de virulência.É cosmopolita,muito prevalente em toda população felina.Pouco resistente ao ambiente,sendo susceptível à vários desinfetantes e detergentes comuns.É inativado em uma temperatura de 37 graus em apenas 3 horas,e a 56 graus em apenas 5 min.Entretanto em temperaturas mais baixas(menor que 25 graus Celsius) podem resistir em até um mês no ambiente.
A enfermidade é típica de gatos domésticos,mas o vírus já foi isolado em felinos selvagens como pumas,leões e guepardos.A transmissão geralmente é direta,através de secreções oronasais de animais infectados,em fase aguda ou em quadros latentes,com sintomas reincidivantes.O contágio por meio de ambiente contaminado só é significante em gatis,abrigos e recintos com uma densidade demográfica alta,onde constantemente são depositadas "cargas" virais infectantes por meio de espirros e secreções oculares.A gata em lactação pode transmitir para a sua prole através do contato direto.
A via-de-entrada do vírus é a mucosa oronasal e ocular.O agente se replica nas células epiteliais do trato respiratório e conjuntiva,causando uma necrose multifocal epitelial.A disseminação continua até os neurônios sensoriais,principlamente o ramo trigemial,onde ficarão em latência,podendo ser reativados por meio de uma corticoidoterapia,lactação,outras doenças e estresse(mudança ambiental).Os gatos doentes já começam a liberar partículas virais a partir de 24h do início do quadro clínico.
A sintomatologia é principalmente respiratória:espirros,descarga nasal serosa ou purulenta,salivação e mais raramente tosse e dispnéia,podendo desenvolver em casos mais graves uma broncopneumonia.Sintomas oculares:conjuntivites,ceratites ulcerativas(úlceras dendríticas),simbléfaro.Em casos menos comuns podem ser encontrados sinais neurológicos como ataxia e desequilíbrio;ulcerações na pele da face,mucosas e membros.
A rinite crônica é uma complicação muito comum da enfermidade.Alguns animais sofrem várias reincidivas periodicamente,outros aparentemente ficam eternamente com secreção nasal e coriza.Isto deve-se à ação destrutiva do vírus ao epitélio nasal,a um caráter imunomediado causado pela presença latente do vírus e a infecções secundárias por bactérias(Bordetella Bronchiseptica,Mycoplasmas,Clamydophila felis,Staphylococcus,Escherichia),fungos e vírus(Calicivírus)
O diagnóstico é basicamente sintomatológico,porém em casos crônicos comvêm a realização de culturas fúngicas e bacterianas das secreções nasais.O PCR é o teste mais recomendado para o diagnóstico final da Herpesvirose.A colheita da amostra é feita por meio de swabs e esfregaços da córnea,orofaringe ; e por meio de sangue total e biopsias.
O tratamento é fundamentado no suporte clínico.Animais enfermos tendem a parar de comer,ou entrar em hipoanorexia,portanto é importante mantê-los em fluidoterapia parenteral e também com alimentação forçada,via tubos de alimentação.Em casos brandos,um orexígeno pode resolver.As nebulizações são importantes,fluidificando as secreções,aliviando a obstrução nasal.Antibióticos são prescritos para o combate às infecções secundárias,podendo utilizá-los via nebulização também.Para as ocorrências oculares,pomadas ou colírios devem ser iniciados rapidamente,evitando-se assim ulcerações corneanas graves.O uso de antivirais ainda é muito controverso,diferindo na opinião de diversos autores.Geralmente a maior eficácia destes são em casos de conjuntivites,com o uso de produtos tópicos.Alguns antivirais orais humanos já foram utilizados,destaco o Fanciclovir,com trabalho já publicado(Malik,R.),com uma boa resposta em mais de 7 casos documentados.´
A vacinação e a quarentena são ,sem dúvida,o esteio da prevenção.Animais recém-adquiridos devem ser isolados por pelo menos 30 dias,verificando a possibilidade de o animal ter o vírus em latência.A imunidade ativa é pouco sólida,protege o adulto geralmente contra infecções mais graves,mas não impede o surgimento dos sintomas.A vacinação dos filhotes se dá a partir de 9 semanas de vida em média,com um reforço após 3 semanas.Recomenda-se uma revacinação anual e depois trianual,dependendo do ambiente e do desafio.Geralmente a imunidade passiva(colostro) termina com certa de 6 semanas de idade,assim,em determinados casos pode-se iniciar a vacinação mais cedo,principalmente nos casos de mães portadoras do vírus.´Os adultos que nunca receberam a vacina pode-se seguir o mesmo esquema para filhotes.Fêmeas matrizes devem ser vacinadas antes da cruza,aumentando a imunidade.Animais idosos e portadores FIV também devem ser vacinados,excetuando-se aqueles com doenças agudas intercorrentes.
O maior problema da Rinotraqueíte Felina é,novamente,em abrigos com muitos gatos,principalmente devido ao caráter portador dos animais infectados e à falta de um controle da entrada de novos animais.