segunda-feira, 28 de junho de 2010

Leishmaniose Felina






Leishmaniose em caninos já em bem conhecida,mesmo assim muito discutida.A Enfermidade em felinos é ainda pouco documentada,embora algumas características da espécie possam favorecer o contágio,como o estilo peridomiciliar,vespertino e crepuscular,mesmo assim são poucos casos registrados,entretanto, a maior parte é no Brasil.



Já está comprovado que os mosquitos do gênero Lutzomyia podem se alimentar do sangue de vários mamíferos domésticos e silvestres,dependendo do ambiente e disponibilidade.Cavalos,jumentos,marsupiais e roedores silvestres podem servir como fonte alimentar.



O aumento da população felina,as características específicas supracitadas e um maior controle da Leishmaniose em cães, pode levar a um aumento de casos da doença em gatos.



A enfermidade em felinos é basicamente dermotrópica,com manifestações cutâneas como nódulos,descamações,pápulas e úlceras,principalmente na face,focinho e pinas,podendo ser os únicos sintomas.Alterações viscerais não são comuns ou não relatadas nos casos descritos,mas pode ocorrer linfadenomegalia.



O diagnóstico é bem semelhante ao dos caninos:sorologia,citologia aspirativa e biologia molecular.



O papel do gato na epidemiologia da doença ainda é obscuro,não se pode afirmar se ele serve de reservatório ou não.Em um importante estudo,através de inquérito parasitológico,demonstrou que a maioria dos gatos que tinham o protozoário não apresentavam nenhum sintoma de leishmaniose.Outro dado importante é que a maioria dos gatos infectados experimentalmente obtiveram cura espontânea em menos de um ano,mas que respondiam ainda positivamente na sorologia.


O caso acima trata-se de um felino macho,resgatado na rua,em Fortaleza-CE,com intensa dermatite crostosa na face e orelhas,alopecia e caquexia.Faixa etária de mais ou menos 4 anos.Lesões eritematosas podais,onicogrifose marcante,com unhas quebradiças.


Foi instituído pelo proprietário um tratamento à base de ivermectina,com aplicações semanais,com discreta melhora.


Coletou-se material para raspado dermatológico(pesquisa direta de ectoparasitas e fungos) e para cultura fungica,sendo ambos negativos.Retirou-se um amostra sanguínea para sorologia para leishmaniose,dando o resultado reagente.


Uma terapia à base de Itraconazol foi iniciada,ainda sob a suspeita de dermatofitose,enquanto esperava-se o resultado do exame sorológico para Leishmania.O quadro dermatológico melhorou bastante,com regressão das lesões,permanecendo somente a alopecia e hiperemia no focinho e orelhas.


A resposta ao anti-fúngico corrobora com a opinião de alguns autores,da acão leishmaniostática do fármaco,com "cura temporária" da enfermidade.


O próprio manejo que foi implantado,com alimentação de qualidade e abrigo pode ter favorecido a recuperação do felino em questão,já que também a cura espontânea já foi documentada.


A leishmaniose felina deve ser incluída no diagnóstico diferencial de dermatites faciais principalmente em áreas endêmicas da doença.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Infecção por Parvovírus Felino







por Fernanda dos Santos Alves*



Há quem acredite que a infecção por parvovírus felino foi erradicada pela vacinação. No entanto, ainda ocorrem surtos onde quer que hajam gatos susceptíveis.
O FPV (Feline Parvovirus Virus) infecta gatos domésticos, outros membros da família Felidae, Mustellidae, Procyonidae, Viverridae. É um vírus pequeno, não envelopado e resistente, com genoma de DNA de filamento único de cerca de 5 quilobases.
A transmissão é predominantemente indireta. É eliminado nas fezes mas também pode ser encontrado em outras secreções e pode sobreviver por até um ano no meio ambiente. O FPV trata de não se extinguir por meio de uma infecção subclínica de gatos adultos e filhotes susceptíveis. Esses felinos eliminam quantidades imensas de partículas virais por alguns dias (até possivelmente semanas), de forma que o meio ambiente fica recontaminando. Gatos mantidos exclusivamente dentro de casa não estão seguros, uma vez que pode ocorrer o transporte do vírus nos sapatos, cestos e etc. A transmissão também pode ser transplacentária e isso justifica certo cuidado ao usar vacinas vivas em gatas prenhes. A desinfecção pode ser feita por hipocloreto de sódio, formaldeído e glutaraldeído.
O vírus é ingerido ou possivelmente inalado e replica-se inicialmente nos tecidos orofaríngeos, ocorre disseminação via hematógena para os principais órgãos-alvo: tonsilas, linfonodos retrofaríngeos, timo e linfonodos mesentéricos após 1 a 3 dias. Ocorre viremia de fase plasmática entre 2 e 7 dias pós-infecção. As células das criptas intestinais são infectadas a partir dos vírus circulantes e não do vírus do conteúdo intestinal. Uma descoberta recente é de que o FPV pode persistir nos linfócitos circulantes por semanas apesar dos altos níveis de anticorpos neutralizantes do vírus. O período de incubação é de 5 a 9 dias.
- Infecção Subclínica: provavelmente a maioria dos gatos se contamina subclinicamente e não exibe sinais de enfermidade. A velocidade de mitose é relevante no resultado da infecção. Se a velocidade for lenta, as lesões se tornam mínimas e clinicamente inaparentes; se o gato ficar estressado e co-infectado com bactérias ou parasitas que danificam os vilos e aumentam a velocidade mitótica, a combinação pode ser letal. Mesmo uma alteração no alimento por alterar a velocidade e tornar clinicamente aparente a infecção por FPV.
- Morte Súbita: geralmente de filhotes mas ocasionalmente de adultos, esta não é uma forma incomum de infecção por FPV. As mortes ocorrem tipicamente em um ambiente com grande quantidade de adultos e filhotes, em especial de animais não vacinados. Mortes de filhotes podem ocorrer em qualquer idade, dependendo de quando os anticorpos maternos diminuem. Sabe-se que ocorre uma janela de susceptibilidade durante a qual o parvovírus, se presente, pode infectar o filhote.
- Enterite Felina Clássica: observa-se um gato agudamente doente, com histórico de ter estado perfeitamente bem no dia anterior ou mais cedo no mesmo dia. Geralmente o gato apresentado não é vacinado, mas vaciná-lo mesmo em 8 a 12 semanas de idade não excluirá um diagnóstico de FPV devido aos anticorpos de origem materna que mantém o vírus vacinal inativo. Os gatos acometidos exibem pirexia ou hipotermia (um sinal prognóstico grave), depressão extrema, anorexia, desidratação e vômito. Diarreia é menos comum especialmente nos estágios iniciais mas, se ocorrer, será abundante e aquosa com sangue. A palpação abdominal poderá revelar intestinos preenchidos por gás e fluido e pode provocar dor. Os exames laboratoriais revelarão neutropenia inicialmente e, após, panleucopenia causada por supressão da medula óssea. Sem intervenção médica, a morte resulta de desidratação grave e possivelmente de sepse.
- Ataxia Felina, Hipoplasia Cerebelar e outros distúsbios do SNC: a predileção do FPV por células em divisão torna o feto particularmente vulnerável a infecções se a gata prenhe não tiver ela mesma proteção. No primeiro trimestre da gestação, a infecção resulta em morte e reabsorção fetais e ou aborto. No segundo trimestre, a infecção pode causar hipoplasia cerebelar, hidrocefalia, hidranencefalia. O FPV causa displasia cerebelar pois o cerebelo se desenvolve posteriormente na gestação e durante o período imediato pós-natal. Filhotes demonstram os sinais assim que começam a andar, aos 10 a 14 dias de idade. Exibem dismetria, ataxia, tremor intencional quando começam a se alimentar em uma tigela. O vírus também pode afetar o encéfalo em desenvolvimento, causando hidrocefalia e hidranencefalia. Lesões do prosencéfalo resultam em alteração da atividade mental. Alguns autores também atribuíram a artrogrifose e alopecia de um natimorto à infecção intra-uterina por FPV.
O FPV é notoriamente difícil de isolar a partir das fezes. Tratando-se de um vírus hemaglutinante, a hemaglutinação de eritrócitos suínos é o método de detecção há muitos anos. Também são usados ELISA e testes de imunomigração rápida, com resultados variáveis. PCR é útil na detecção do DNA do FPV nas fezes, no conteúdo intestinal e em tecidos incrustrados em parafina. O PCR parece oferecer o meio de detecção mais sensível e prático. Pode-se detectar anticorpos contra FPV por meio de inibição da hemaglutinação e ELISA. O material deve incluir uma amostra de fezes e de sangue (para vírus e anticorpos, respectivamente). O conteúdo do cólon ou do reto de um gato adulto ou filhote mortos deve ser enviado em um receptáculo para detecção viral, e três secções de 1cm de níveis diferentes do intestino delgado (duodeno, jejuno, íleo) devem ser enviadas em formalina a 10% para histopatologia.
O tratamento é basicamente de suporte. Fluidoterapia é essencial para combater a desidratação e os fluidos adequados incluem solução salina com dextrose 5%, solução Ringer com lactato e outras soluções eletrolíticas equilibradas mais complexas. Antibióticos de largo espectro, anti-eméticos e compostos de vitamina B parenteralmente são também indicados. Gatos em recuperação devem receber alimentação leve e, se necessário, estimulantes do apetite




* Todos agradecimentos pelo post,criado pela Dra.Fernanda,CRMV-MG 9539
Especialista em clínica e cirurgia de pequenos animais.