segunda-feira, 20 de abril de 2009

Urinálise em Felinos

A análise de urina ainda é subutilizada no dia-a-dia clínico.A quantidade de informações e esclarecimentos que podem ser obtidos através de um simples sumário de urina ainda é desconhecido por muitos.
A urinálise é imprescindível para o acompanhamento e diagnóstico de todos os distúrbios urinários de felinos,e nestes,também há algumas particularidades.Basicamente,a análise consiste no exame macroscópico(cor,aspecto,odor),medição da densidade específica,testes bioquímicos(semi-quantitativos e quantitativos) e exame microscópico do sedimento.Todos estes procedimentos podem ser alterados por fatores como:estado de hidratação do animal,por medicações administradas,alimentação e pela forma de coleta e acondicionamento da mesma,assim, a interpretação dos resultados devem ser de acordo com essas variáveis.
A coleta por meio de cistocentese é a mais recomendada,é uma forma geralmente atraumática e simples,onde conseguimos uma amostra mais fidedigna e sem contaminação bacteriana.O ideal é que se realize a amostragem antes de fluidoterapia ou tratamentos com corticóides,antibióticos,diuréticos ou contrastes radiológicos.

A Densidade Urinária:

Uma das mais importantes análises,avalia a função renal refletindo a capacidade dos túbulos renais de diluir ou concentrar o filtrado glomerular.Também,só se consegue uma interpretação segura dos outros testes conhecendo-se a densidade da urina em questão.
A variação comum para gatos é de 1025 a 1060,mas intervalos entre 1002 a 1080 podem ser normais,dependendo do estado de hidratação e eletrolítico do paciente.Valores muito baixos para animais bem hidratados não refletem anormalidade,porém os mesmos valores para indivíduos desidratados demostram já uma disfunção renal.
A alimentação também é importante para a densidade urinária final,gatos com dieta seca,possuem geralmente uma densidade entre 1035 a 1060.Animais que comem ração úmida ,provavelmente terão valores próximos de 1025.
A capacidade que os nossos gatos têm de concentrar bastante a urina,provêm de seus ancestrais africanos,que viviam em condições de privação hídrica.Esta característica explica a baixa frequência de infecção urinária nestes animais,devido a alta osmolalidade da urina,portanto,as bactérias oportunistas só causam problemas se a função renal estiver comprometida,o que diminui a capacidade de concentração pelos rins.
É importante lembrar que a temperatura da urina interfere na mensuração da densidade,devendo-se usar amostras em temperatura ambiente.

Bioquímica Semiquantitativa:

São os testes feitos por tiras de imersão,que avaliam proteínas,glicose,bilirrubina,sangue oculto,leucócitos.Elas são simples de usar,mas requerem muito cuidado,pois podem induzir a erros facilmente.Primeiro,nem todos os tipos de fitas reagentes são precisas em gatos,kits para avaliação de leucócitos,bactérias,nitritos,urobilinogênio e densidade não são confiáveis nestes.
A urina também deve estar em temperatura ambiente,por tratar-se de reações químicas e enzimáticas,não pode estar contaminada com desinfetantes ou contrastes e a avaliação das fitas deve ser feita em ambientes de boa iluminação.
A bilirrubinúria é sempre anormal em gatos,diferentemente do que nos cães.A glicosúria deve ser avaliada com cuidado,pode ser devido a stress do animal na coleta e não patológica,dependendo da variação e anamnese.
A proteína pode ser normal,de acordo com a margem mínima.Em animais saudáveis,a quantidade de até 30mg/kg/dia pode ser encontrada.A proteinúria deve ser levada em consideração juntamente com os valores de densidade urinária e principalmente com a sedimentoscopia,em que restos celulares,leucócitos e bactérias podem alterar a taxa total.
O pH urinário nos indica uma possível infecção urinária,predisposição à cristalúria e formação de urólitos.Ele pode variar de 5 a 9,dependendo muito da alimentação,pois gatos com um consumo maior de proteína animal tendem a acidificar mais a urina.Ocorre também a conhecida onda alcalina prós-prandial,onde o pH aumenta até 4 horas após uma refeição.

Bioquímica Quantitativa:

A avaliação da proporção proteína-creatinina urinária têm sido muito utilizada na detecção precoce de IRC e no acompanhamento de pacientes renais.Ela é calculada pela divisão da concentração proteíca urinária pela concentração urinária da creatinina,onde valores de 0,8 a 1 devem ser considerados suspeitos e acima de 1,são anormais.Essa relação quantifica a perda de proteína urinária.Recomenda-se a coleta de três amostras,com intervalo de 5 dias entre cada,fazendo-se uma média,obtendo-se o valor final.Para este cálculo é importante que não haja contaminação da amostra e nem hematúria,além de que é preciso centrifugar e retirar todo o material particulado e celular.


Sedimentoscopia:

Este exame é fundamentalmente importante para uma urinálise correta.Deve ser feito o mais breve possível,até 2 horas após a coleta,para minimizar a degeneração das células.
É comum na urina felina uma certa quantidade de células epiteliais, de leucócitos,hemácias,gotículas lipídicas,espermatozóides,alguns cilindros e cristais.Células epiteliais renais ou quantidade aumentada de cilindros tubulares indicam doença renal.
A relação normal entre hemácias e leucócitos na urina é de 1:1.Geralmente considera-se piúria,quando é ultrapassado os valores normais de leucócitos,dependendo da via de coleta:por micção natural(0 a 8 por campo),por cateterização(0 a 5/campo) e cistocentese(0 a 3/campo).
A cilindrúria indica quase sempre uma afecção renal,principalmente os cilindros celulares.
Os cristais são comuns na urina dos felinos e na maioria das vezes não causam problemas,mas podem predispor o animal à urolitíase,dependendo de outros fatores.Portanto,a presença deles não é sinal de doença.
A presença de bactérias na urina dos felinos sempre deve ser avaliada a causa primária,devido a um certo grau de "esterilidade" advindo da alta osmolalidade já citada, a quantidade destas considerada preocupante, é bem menor em relação a da urina canina.Porém,facilmente pequenas partículas e gotas lipídicas podem ser confundidas com microorganismos,devido ao fenômeno "movimento browniano",assim,é muito importante uma cultura urinária para certificarmos da presença destas.
A urinálise é um exame simples,de baixo custo,mas que nos brinda com valiosas informações,e que precisa se tornar tão comum quanto a um hemograma.

Guia de Urinálise em Gatos-Purina

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Medicina Comportamental:Agressividade


Um gato agressivo é um sério problema,para nós,para proprietários e para eles mesmos.Um sério transtorno que muitas vezes pode ser evitado conhecendo-se o comportamento normal do felino,sabendo-se como evitar os desvios patológicos.Além disso,há uma possibilidade de transmissão de zoonoses através de mordidas e unhadas,o que fortalece o tratamento e prevenção desses atos.

A Falta de Socialização como Causa de Agressão:
Gatos que não tiveram o contato com seres humanos durante o período crítico de aprendizagem,que é do nascimento até cerca de 14 semanas,terão grandes chances de não se adaptarem ao convívio humano,tornando-se um agressor em potencial.Sabe-se que mínimos carinhos em filhotes,diariamente,os deixam mais aptos a uma socialização mais tranquila,e eles conseguem interagir mais rapidamente com o ambiente,de uma maneira mais suave e pacífica.
É importante que o convívio seja com adultos e crianças desde cedo,estimulando-os com jogos e brinquedos,mas nunca com as mãos ou pés.As manipulações devem também imitar os cuidados de higiene,como a escovação dentária,limpeza das orelhas,dos olhos,corte de unhas,tudo isso para facilitar essas operações mais tarde,na vida adulta.
A interação com outros gatos e animais de outras espécies deve ser iniciada o quanto antes também.A gata mãe e outros adultos,se presentes, têm papel importante na moderação do filhote,estes aprenderão a controlar a força das suas mordidas,aprenderão o que é a frustração,ou o "não" verdadeiramente dito,como nos períodos em que a mãe faz o desmame.Sem esse contato,o filhote pode se tornar bem impulsivo e nervoso.

A Dor e a Agressividade:
Muitas vezes,o comportamento que muda para uma agressividade inexplicada,deve-se a afecções que causam dores,tornando o felino mais sensível e relutante ao contato social.Condições dolorosas,como problemas dentários,artrites,doenças de discos vertebrais,infecções de glândulas perianais,meningiomas ,podem torná-los impossíveis de manipulação e até causar agressão a outros gatos ou proprietários.Toda a alteração súbita de atitude felina,deve ser logo minuciosamente investigada.

Comportamento Predatório:
Esse é inato de todo felino,praticamente bem difícil de evitá-lo,porém,mais uma vez a socialização e interação bem precoce é fundamental.Pássaros pequenos e outros animais devem ser apresentados o mais cedo ao filhote.Deve-se evitar a saída dos gatos para ambientes externos,diminuindo o ataque à presas de fora.

Agressão Entre Gatos:
Os nossos felinos domésticos podem competir entre si por vários motivos:alimentação,fêmeas,liteiras, e território principalmente.Comumente ocorre na introdução de novos membros na comunidade,ou quando um gato fica ausente por determinados períodos e volta,como no caso de internamentos ,banhos e hospedagens.Entretanto podemos nos depararmos com proprietários aflitos,relatando que "eles sempre viviam como irmãos" mas agora parecem "gato-e-cachorro".Esses distúrbios podem ser evitados com a introdução gradativa dos recém-chegados,colocando-os em recintos separados,controlando o contato.O uso de ferormônio,artificial ou natural,é bem interessante,pois diminui a ansiedade e o nervosismo.
Todos os recursos e itens como liteiras e fontes de água e alimentos ,devem ser bem distribuídos e em quantidade proporcional ao número de indivíduos,evitando-se a competição.
O tratamento da agressividade em gatos baseia-se em fármacos ansiolíticos e antidepressivos,remanejo ambiental e ferormônios,mas nunca separado do recondicionamento social,que abordaremos posteriormente.


quarta-feira, 8 de abril de 2009

Hérnia Perineal em Gatos


Devido a uma certa raridade dessa afecção em felinos e de ter assistido dois vídeos de excelente qualidade sobre a resolução cirúrgica da mesma,achei interessante criar um post para uma melhor discursão.Particularmente, nunca tive a sorte ou a falta dela, de deparar-me com uma hérnia perineal em um felino,se algum colega já,por favor,nos divida sua experiência.
Bem conhecida nos cães,é comum em animais idosos,principalmente machos.Acontece quando há uma fraqueza dos músculos que formam a região perineal,onde quase sempre alguns orgãos ou vísceras intra-abdominais "escapam" por essa hérnia,principalmente intestino e bexiga.Nos gatos existe uma relação com o megacólon,não é incomum a associação deste com hérnia perineal.Também foi sugerido que gatos que sofreram uretrostomia perineal,podem desenvolver o problema ,devido à manipulação das estruturas musculares perineais.
Os sintomas são basicamente o volume anormal ao redor e abaixo do ânus,tenesmo e disquezia.A radiografia contrastada(enema de bário) fechará o diagnóstico e ainda será importante para avaliação de megacólon,além da coloscopia quando possível.
O tratamento é cirúrgico,o que podemos ver nos vídeos seguintes,com grande propriedade:

Hernia Perineal Gato-Parte 1

Hernia Perineal Gato-Parte 2

terça-feira, 7 de abril de 2009

Nota do Editor


Há um pouco mais de um mês iniciei as publicações neste blog,com o objetivo de informar e gerar discursões sobre os felinos e a medicina veterinária que os amparam.Como já disse,não sou o dono da verdade,por isso tudo que é publicado têm alicerces seguros,baseados em artigos,estudos feitos por profissionais de mais alta competência na medicina felina,além da ajuda de colegas muito estimados e pela experiência própria.
Agradeço a quem nos acompanha e a todos que visitam e participam principalmente,como:Mel Tortuga,Tiago,Kátia,Wellida,Lili,Tânia,Claudinha,Ju Galhardo,Fabiane,Melissa,Rafaella,Nina,Alice,Daniana,Keila,Juliana e todos...
Ofereço assim,para os colegas veterinários o livro Medicina Felina e Terapêutica,do Chandler e para os gateiros proprietários um "cookbook"divertido com receitas caseiras testados por veterinários,embora prefiro a praticidades das rações.Um abraço e obrigado!

Feline Medicine and Therapeutics
Cat Treat Cookbook